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A forma como você lida com problemas pode dizer sobre você mais do que imagina

  • Foto do escritor: Carolina Leles
    Carolina Leles
  • 21 de jun.
  • 3 min de leitura

Lidar com problemas é parte inevitável da experiência humana. Mas a maneira como cada pessoa enfrenta adversidades não apenas reflete seu estado emocional momentâneo, revela, de forma profunda, aspectos de sua maturidade psíquica e influencia diretamente no desenvolvimento de capacidades cognitivas e morais. Mais que isso: segundo diversos estudos, enfrentar dificuldades de forma consciente e elaborada está relacionado à construção de uma vida mais digna e satisfatória.

Problemas como desafios para o desenvolvimento humano

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A literatura da psicologia do desenvolvimento, especialmente autores como Robert Kegan (1982), mostra que a capacidade de enfrentar problemas complexos está intimamente ligada à evolução das estruturas cognitivas e emocionais. Não se trata apenas de “resolver” o problema, mas de ser transformado por ele. Problemas mobilizam reflexão, exigem adaptação e ativam processos mentais que favorecem o amadurecimento psicológico.

Quando a pessoa se permite refletir sobre um desafio, em vez de negá-lo ou agir de modo impulsivo, ela fortalece sua metacognição (Flavell, 1979), ou seja, a capacidade de pensar sobre o próprio pensamento. Isso está diretamente associado ao desenvolvimento de habilidades como autorregulação emocional, pensamento crítico e resiliência.


Estilo de enfrentamento e crescimento psicológico


Pesquisas sobre coping (Lazarus & Folkman, 1984) identificaram que estratégias de enfrentamento baseadas em resolução ativa de problemas, reavaliação cognitiva e busca de suporte social estão associadas a um maior bem-estar psicológico, enquanto estratégias de evitação, negação ou ruminação tendem a prejudicar a saúde mental.


Um estudo longitudinal de Seery et al. (2010) mostrou que indivíduos que enfrentaram uma quantidade moderada de adversidades ao longo da vida apresentavam maior resiliência e níveis mais altos de satisfação com a vida, comparados a pessoas que não enfrentaram quase nenhum problema (ou que enfrentaram traumas severos sem suporte adequado).

Em outras palavras: problemas não apenas testam nossa capacidade de viver com dignidade, eles desenvolvem essa capacidade.


Problemas e construção de uma vida digna


A ideia de uma vida “digna” não se resume a evitar sofrimento. Pelo contrário: filósofos contemporâneos como Martha Nussbaum (2000), na sua abordagem das capacidades humanas, ressaltam que uma vida digna envolve o cultivo de competências como autonomia, reflexão moral e engajamento com os desafios do mundo. Isso implica disposição para enfrentar adversidades de forma consciente, assumindo responsabilidade por si mesmo.


Quando evitamos sistematicamente os problemas ou recorremos a defesas rígidas, limitamos nosso potencial de crescimento. Mas quando aceitamos os desafios como oportunidades para aprender e nos aprimorar, expandimos nossas capacidades humanas fundamentais, cognitivas, emocionais e éticas.


A maneira como você enfrenta problemas não é apenas uma questão de estilo pessoal. Ela reflete e molda sua estrutura psíquica, fortalece (ou não) suas capacidades cognitivas e morais, e influencia a qualidade e a dignidade de sua vida.


Por isso, diante do próximo obstáculo, vale a pena perguntar: como eu posso usar essa situação para me tornar mais consciente, mais capaz, mais íntegro? É nessa pergunta que se abre o caminho para uma vida mais autêntica e significativa.


Referências

Flavell, J. H. (1979). Metacognition and cognitive monitoring: A new area of cognitive–developmental inquiry. American Psychologist, 34(10), 906–911. https://doi.org/10.1037/0003-066X.34.10.906

Kegan, R. (1982). The evolving self: Problem and process in human development. Harvard University Press.

Lazarus, R. S., & Folkman, S. (1984). Stress, appraisal, and coping. Springer.

Nussbaum, M. C. (2000). Women and human development: The capabilities approach. Cambridge University Press.

Seery, M. D., Holman, E. A., & Silver, R. C. (2010). Whatever does not kill us: Cumulative lifetime adversity, vulnerability, and resilience. Journal of Personality and Social Psychology, 99(6), 1025–1041. https://doi.org/10.1037/a0021344

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