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Como Freud Transformou a Compreensão das Doenças Psíquicas

  • Foto do escritor: Carolina Leles
    Carolina Leles
  • 16 de jun.
  • 3 min de leitura
“Não somos apenas o que sabemos de nós mesmos. Somos, em grande parte, o que desconhecemos.” — Sigmund Freud
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Antes do surgimento da psicanálise, doenças mentais eram vistas sob uma ótica predominantemente orgânica, moral ou até espiritual. Indivíduos com sintomas emocionais ou comportamentais eram muitas vezes marginalizados, internados ou rotulados como "loucos", sem que se compreendesse a complexidade de seus sofrimentos. Foi nesse cenário que Sigmund Freud (1856–1939), médico neurologista austríaco, trouxe uma revolução: ele propôs que muitas doenças não tinham origem apenas no corpo, mas também na mente, especificamente, no inconsciente.


O Início de uma Revolução: Freud e a Histeria


O ponto de virada se deu quando Freud, em parceria com o médico Jean-Martin Charcot e posteriormente com Josef Breuer, estudou casos de histeria, condição que causava paralisias, convulsões e sintomas físicos sem lesão orgânica detectável. A observação dessas manifestações levou Freud a questionar: e se o corpo estivesse apenas expressando conflitos psíquicos reprimidos?


Essa hipótese, desenvolvida com o famoso caso de Anna O., levou à formulação de um dos conceitos mais importantes da psicanálise: o inconsciente. Freud sugeriu que memórias, traumas e desejos reprimidos poderiam se manifestar de forma simbólica no corpo e no comportamento. Essa abordagem era radical para a época, e abriu caminho para uma nova forma de compreender o sofrimento humano.


Do Corpo à Psique: A Virada Epistemológica


Com Freud, a psicologia deixou de ser apenas uma extensão da fisiologia e passou a ter um objeto de estudo próprio: o psiquismo humano. Ele propôs uma estrutura da mente dividida entre o consciente, o pré-consciente e o inconsciente, uma verdadeira cartografia da alma.


Essa mudança de paradigma tirou a psicopatologia do terreno exclusivamente médico e introduziu a ideia de que os sintomas são expressões de um conflito psíquico. A escuta clínica passou a ter um papel fundamental no diagnóstico e no tratamento, e a fala, antes desconsiderada, tornou-se uma ferramenta terapêutica poderosa. Como o próprio Freud afirmou: “A psicanálise é, antes de tudo, uma cura pela fala.”


Avanços Científicos e Influência Multidisciplinar


Apesar de suas teorias não serem empíricas nos moldes das ciências naturais, Freud influenciou profundamente áreas como:

  • Psicologia clínica: com a introdução do setting terapêutico e da escuta psicanalítica;

  • Psiquiatria: ao propor uma leitura simbólica dos sintomas e não apenas medicamentosa;

  • Antropologia e sociologia: ao interpretar o comportamento humano como expressão de conflitos culturais e sociais;

  • Arte e literatura: ao mostrar como a produção simbólica é atravessada por desejos inconscientes.

Além disso, conceitos como transferência, repressão, pulsão e desejo se tornaram centrais não apenas na clínica, mas também no debate acadêmico e cultural do século XX.


A Psicologia Após Freud: Um Novo Olhar para a Ciência


Freud inaugurou o campo da psicologia profunda, um movimento que influenciou diversas correntes posteriores, como a psicologia analítica de Carl Jung, a psicologia individual de Adler e as abordagens humanistas e existenciais. Ele ajudou a consolidar a psicologia como ciência da subjetividade, legitimando a investigação da experiência interna, das emoções e dos processos inconscientes como campo científico.

Mesmo com as críticas e revisões às suas ideias, Freud permanece uma figura incontornável: ele reconfigurou os critérios de normalidade e patologia e fez com que a ciência psicológica reconhecesse a complexidade do humano, um ser movido por desejos, conflitos, traumas e histórias singulares.


Freud não apenas abriu as portas para compreender as doenças psíquicas sob uma nova ótica, ele mudou a forma como entendemos a nós mesmos. Seu legado não se limita à clínica ou à teoria; ele é uma das maiores contribuições intelectuais do século XX. E talvez, por isso, seu impacto continue vivo: porque olhar para o inconsciente é, também, olhar para o que nos torna profundamente humanos.


Referência

FREUD, S. (1895). Estudos sobre a histeria. São Paulo: Imago.

ROUDINESCO, E. (1998). Jacques Lacan & Co.: Uma história da psicanálise na França 1925-1985. Rio de Janeiro: Zahar.

GAY, P. (1989). Freud: Uma vida para o nosso tempo. São Paulo: Companhia das Letras.


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