Por que exercitar a empatia é um ato revolucionário nos dias atuais
- Carolina Leles
- 13 de set.
- 3 min de leitura
Vivemos em uma época marcada por pressa, polarização e excesso de informação. Conectados pelas redes sociais, mas muitas vezes desconectados emocionalmente, corremos o risco de perder aquilo que nos torna verdadeiramente humanos: a capacidade de sentir e compreender o outro. É nesse cenário que a empatia surge não apenas como uma virtude, mas como um verdadeiro ato revolucionário.
O que é empatia, afinal?
Empatia é a habilidade de se colocar no lugar do outro e enxergar o mundo a partir da sua perspectiva. Para Carl Rogers (1961), é a condição fundamental para relações humanas genuínas, pois envolve “perceber o mundo interno do outro como se fosse o próprio, mas sem perder a condição de ‘como se’”.
Daniel Goleman (1995), ao falar sobre inteligência emocional, destacou que compreender os sentimentos alheios é a chave para construir vínculos sólidos, cooperativos e respeitosos.
Em outras palavras, a empatia nos convida a sair do nosso próprio eixo para reconhecer a pluralidade da experiência humana.
Tipos de empatia: cognitiva e emocional
A empatia pode se manifestar de duas formas:
Cognitiva: é compreender racionalmente o que o outro pensa ou sente.
Emocional: é sentir junto, compartilhar da emoção alheia em nível afetivo.
Essa distinção é fundamental para entender fenômenos como a psicopatia. Estudos de Hare (1999) e Blair (2005) mostram que indivíduos psicopatas conseguem compreender cognitivamente os sentimentos do outro (empatia cognitiva), mas não os experimentam emocionalmente, o que explica sua frieza e ausência de compaixão.
Enquanto a empatia emocional nos conecta e humaniza, a ausência dela pode gerar distanciamento, manipulação e indiferença.
Por que exercitar a empatia é revolucionário hoje?
Fortalece a humanidade em meio à pressa – parar para ouvir e acolher é um gesto raro em um mundo acelerado.
Constrói pontes em tempos de polarização – compreender não significa concordar, mas abre espaço para o diálogo.
Transforma ambientes de trabalho – líderes e equipes empáticos cultivam confiança, motivação e colaboração.
Protege a saúde mental – sentir-se ouvido e validado é um antídoto contra a solidão e o adoecimento emocional.
Resgata nossa essência social – como dizia Martin Buber (1937), “O homem se torna Eu na relação com o Tu”: só nos reconhecemos plenamente na troca com o outro.
Num mundo que valoriza performance acima de cuidado, exercitar a empatia é remar contra a corrente. É escolher a humanidade quando o mais fácil seria a indiferença.
Como praticar a empatia e se tornar uma pessoa melhor todos os dias
A empatia não é um dom, mas uma prática diária. A psicologia positiva (Seligman, 2004) mostra que pequenas escolhas cotidianas fortalecem virtudes humanas.
Algumas práticas simples:
Escuta ativa: ouvir sem interromper e sem julgamentos.
Perguntar antes de julgar: buscar compreender antes de concluir.
Validar sentimentos: reconhecer a dor ou a alegria do outro.
Cultivar a curiosidade: aprender sobre diferentes culturas, histórias e perspectivas.
Praticar a autocompaixão: ser empático consigo mesmo para poder ser com o outro.
E, todos os dias, fazer uma breve reflexão: “De que forma contribui para a vida de alguém hoje?”. Como lembra Aristóteles: “Somos o que repetidamente fazemos. A excelência, portanto, não é um feito, mas um hábito.”
Exercitar a empatia é mais do que uma habilidade social: é um gesto político, humano e transformador. Num tempo em que a indiferença parece regra, escolher sentir com o outro é revolucionar silenciosamente o mundo ao nosso redor.
Talvez a verdadeira mudança que precisamos comece não em grandes discursos, mas em pequenos atos de empatia. Porque cada vez que paramos para ouvir, acolher e compreender, estamos escrevendo uma nova história – uma história mais humana.
Referências
BLair, R. J. R. (2005). Applying a cognitive neuroscience perspective to the disorder of psychopathy. Development and Psychopathology, 17(3), 865–891.
BUBER, M. (1937). Eu e Tu. São Paulo: Centauro Editora (edições posteriores em português).
CLECKLEY, H. (1941). The Mask of Sanity. St. Louis: C.V. Mosby.
FRICK, P. J.; WHITE, S. F. (2008). Research review: The importance of callous–unemotional traits for developmental models of aggressive and antisocial behavior. Journal of Child Psychology and Psychiatry, 49(4), 359–375.
GOLEMAN, D. (1995). Inteligência Emocional. Rio de Janeiro: Objetiva.
HARE, R. D. (1999). Without Conscience: The Disturbing World of the Psychopaths Among Us. New York: Guilford Press.
RIZZOLATTI, G.; CRAIGHERO, L. (2004). The Mirror-Neuron System. Annual Review of Neuroscience, 27, 169–192.
ROGERS, C. (1961). On Becoming a Person: A Therapist’s View of Psychotherapy. Boston: Houghton Mifflin.
SELIGMAN, M. E. P. (2004). Authentic Happiness: Using the New Positive Psychology to Realize Your Potential for Lasting Fulfillment. New York: Free Press.
ARISTÓTELES. (1991). Ética a Nicômaco. Brasília: Editora UnB. (obra original ~350 a.C.).
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