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Como as Âncoras de Carreira Influenciam a Satisfação no Trabalho

  • Foto do escritor: Carolina Leles
    Carolina Leles
  • 4 de jun.
  • 3 min de leitura

Você já sentiu que, mesmo diante de uma boa oportunidade de trabalho, algo dentro de você hesita? Ou já se perguntou por que algumas pessoas se mantêm firmes em suas carreiras, enquanto outras vivem em constante busca por algo novo?A resposta para essas perguntas pode estar em um conceito desenvolvido pelo psicólogo organizacional Edgar Schein: as âncoras de carreira.


Schein percebeu que, ao longo da trajetória profissional, cada pessoa desenvolve uma espécie de “bússola interna” – uma combinação de valores, talentos e necessidades – que guia suas escolhas, preferências e permanências. Ele chamou isso de âncora, pois, como o próprio nome sugere, é o que mantém o indivíduo firme, mesmo em meio a mudanças ou desafios.


Segundo sua teoria, todos nós temos uma ou duas âncoras dominantes, que se formam com o tempo, a partir das experiências vividas e do nosso autoconhecimento. São elas que nos fazem rejeitar um cargo bem remunerado, por exemplo, se ele não se alinha à nossa necessidade de autonomia, propósito ou equilíbrio com a vida pessoal.


Oito formas de se ancorar na carreira


Schein identificou oito tipos principais de âncoras, cada uma representando uma motivação central que sustenta a permanência ou o desejo de mudança profissional:

  • Competência Técnica/Funcional: pessoas com essa âncora têm prazer em se tornar especialistas em uma área específica. Valorizam o domínio técnico e a excelência em sua função.

  • Competência Gerencial Geral: aqui, o desejo é assumir posições de liderança, tomar decisões estratégicas, coordenar pessoas e influenciar resultados organizacionais.

  • Autonomia/Independência: profissionais que priorizam a liberdade de escolher como, quando e onde trabalhar. Sentem-se limitados por estruturas muito rígidas.

  • Segurança/Estabilidade: buscam previsibilidade, plano de carreira estruturado e benefícios que ofereçam tranquilidade a longo prazo. A estabilidade financeira é essencial.

  • Criatividade Empreendedora: motivados por criar, inovar e correr riscos. Essas pessoas querem construir algo próprio, do zero, e não se sentem realizadas apenas mantendo o que já existe.

  • Serviço/Dedicação a uma Causa: o que move esses profissionais é contribuir com a sociedade, ajudar os outros, trabalhar com propósito e gerar impacto social positivo.

  • Desafio Puro: amam resolver problemas complexos e superar obstáculos. São movidos pela competição, pela superação constante e por objetivos difíceis.

  • Estilo de Vida: buscam integrar a vida pessoal e profissional de forma equilibrada. Valorizam flexibilidade, tempo com a família, saúde mental e bem-estar.

É comum que uma pessoa se identifique com mais de uma âncora, mas normalmente uma delas exerce influência predominante nas decisões de carreira.


Quando a âncora não está alinhada com o trabalho


A relevância prática da teoria é confirmada por pesquisas. Estudos mostram que o alinhamento entre a âncora de carreira e o contexto profissional está diretamente ligado à satisfação, engajamento e permanência. Quando esse alinhamento não existe, surgem insatisfações, queda de desempenho e até adoecimento emocional.


Um estudo de Souza e Pires (2014), com 845 profissionais brasileiros, revelou que as âncoras mais comuns no país são Estilo de Vida, Estabilidade e Competência Técnica. Já uma pesquisa de Valentim et al. (2018), com profissionais da área de tecnologia, apontou que o desalinhamento entre a âncora pessoal e as exigências da função aumenta o desejo de desligamento e reduz o comprometimento com a organização.

Esses dados reforçam que muitas vezes o problema não está na função em si, mas no quanto ela conversa (ou não) com aquilo que realmente importa para a pessoa.


Âncoras como ferramenta de autoconhecimento


Mais do que uma curiosidade teórica, conhecer sua âncora de carreira é um passo essencial no processo de autoconhecimento e planejamento profissional. Saber o que te move (e o que te limita) te ajuda a tomar decisões mais coerentes com quem você é, a recusar propostas que não fazem sentido e a buscar ambientes mais alinhados com seus valores.

Identificar sua âncora pode começar com perguntas simples: o que me faz sentir útil no trabalho? O que eu não abriria mão numa nova vaga? Em que tipo de ambiente me sinto mais inteiro? A partir dessas reflexões, é possível entender melhor seus caminhos, seus incômodos e até suas indecisões.


No fim das contas, as âncoras de carreira não são caixas que aprisionam, mas sim chaves que abrem portas. Elas mostram que fazer escolhas conscientes é mais do que buscar sucesso: é buscar sentido, conexão e permanência com integridade. Afinal, quando estamos alinhados com o que nos ancora, o trabalho deixa de ser apenas obrigação – e passa a ser expressão.


Referências:

SCHEIN, Edgar H. 1990. Career anchors: discovering your real values. San Francisco: Jossey-Bass/Pfeiffer.

SOUZA, Leandro Fernandes de; PIRES, Cátia Gomes da Silva. Âncoras de carreira: uma análise com profissionais de empresas brasileiras. Revista de Administração Mackenzie, São Paulo,

VALENTIM, Darlene Pereira et al. Análise das âncoras de carreira em profissionais de TI. Revista Brasileira de Gestão e Inovação, Guarapuava, v. 6, n. 2, p. 21–36, 2018. DOI:

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