O Encanto Invisível das Palavras
- Carolina Leles
- 1 de jun.
- 3 min de leitura
Atualizado: 3 de jun.
O que você está criando com as palavras que diz?
Dizem que a palavra é vento. Mas nem sempre. Às vezes, ela é pedra. Outras, semente. E, em muitos momentos, é encantamento, um feitiço que atravessa o espaço invisível entre duas almas e altera algo que nem sabíamos que precisava ser tocado.
Falar não é apenas emitir som. É intencionar sentido. É nomear o mundo, moldar a realidade e oferecer aos outros, e a nós mesmos, uma versão possível do que é viver. Quando falamos com atenção e presença, acessamos uma forma sutil de poder. Não o poder que domina, mas o que cura, desperta, organiza e transforma.
Essa magia silenciosa é estudada por diversos saberes. A psicologia, por exemplo, nos mostra que nomear emoções é um ato terapêutico. Quando dizemos “estou com medo” ou “estou exausta”, deixamos de ser reféns de um emaranhado difuso e passamos a ser protagonistas conscientes da própria vivência. O simples ato de verbalizar nos devolve controle, dignidade e clareza. É quase como invocar luz em um cômodo escuro.
Ao mesmo tempo, a filosofia, desde Platão até os dias de hoje, nos lembra que a linguagem estrutura o pensamento. Não existe reflexão sem palavra. Pensamos falando conosco. Criamos sentido narrando a vida por dentro. E mesmo o silêncio, quando habitado por intenção, se torna verbo.
A ciência, por sua vez, revela que as palavras que ouvimos e dizemos geram impactos físicos em nosso corpo. Estudos em neurociência demonstram que um elogio sincero ativa os mesmos circuitos cerebrais de uma recompensa concreta. Já palavras hostis podem disparar hormônios de estresse. Cada frase é um código bioquímico que reverbera no corpo. Não é apenas simbólico, é real, mensurável, vivo.
Na espiritualidade ancestral, da tradição hindu aos ensinamentos herméticos, isso não é novidade. Os antigos sabiam que a palavra carrega frequência, vibração, intenção. Os mantras, orações e encantamentos eram (e ainda são) formas de alinhar a mente ao sagrado, de curvar o caos interior ao ritmo de algo maior. No Gênesis, é com a palavra que o mundo é criado. E no silêncio místico, a palavra não dita também fala.
É nesse contexto que ressoa com ainda mais força a célebre frase de Alvo Dumbledore, personagem da saga Harry Potter:"Words are our most inexhaustible source of magic."Ou, em português: "As palavras são nossa fonte mais inesgotável de magia."
E são mesmo. As histórias que contamos a nós mesmos, sobre quem somos, o que merecemos, do que somos capazes, constroem a arquitetura invisível da nossa existência.
Quantas vezes uma frase ouvida na infância ecoou por décadas? Quantas vezes uma palavra de apoio mudou o rumo de uma decisão?
Talvez, no fim, falar seja mesmo uma forma de magia cotidiana. Uma magia que não precisa de velas, círculos ou rituais, apenas de presença, intenção e escuta.
Por isso, da próxima vez que for se comunicar, respire. Sinta. Pergunte-se: para quê estou dizendo isso? Porque o que você diz, e como você diz, deixa marcas. Em você, nos outros, no mundo.
E se somos feitos de histórias, que ao menos saibamos lançar nossos feitiços com consciência, com beleza, gentileza e a sabedoria de quem sabe que cada palavra, mesmo a mais breve, pode ser o início de um novo universo.
Referências
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FRANKL, Viktor E. Em busca de sentido: um psicólogo no campo de concentração. 34. ed. Petrópolis: Vozes, 2017.
LE GUIN, Ursula K. The Language of the Night: Essays on Fantasy and Science Fiction. New York: Berkley, 1979.
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ROWLING, J. K. Harry Potter and the Deathly Hallows. London: Bloomsbury Publishing, 2007.
SIEGEL, Daniel J.; BRYSON, Tina Payne. The Whole-Brain Child: 12 Revolutionary Strategies to Nurture Your Child’s Developing Mind. New York: Delacorte Press, 2011.
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EMOTO, Masaru. The Hidden Messages in Water. Hillsboro: Beyond Words Publishing, 2004.
THE KYBALION. O Caibalion: estudo da filosofia hermética do antigo Egito e da Grécia. Tradução de José H. M. Figueiredo. São Paulo: Pensamento, 2003.
SAGRADA BÍBLIA. Gênesis 1:3. Diversas edições.
YOO, Hyun; NUSSBAUM, Roger. Words Can Change Your Brain. Psychology Today, 2016. Disponível em: https://www.psychologytoday.com. Acesso em: 1 jun. 2025.
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